Os anos velhos me trazem saudades de
caminhar descalço pelas ruas após a chuva,
e mergulhar o pé nas poças de água,
De subir nas mangueiras e chupar mangas até sujar a boca,
De correr atrás das pipas e dos balões,
E de se esconder atrás de um muro qualquer e assustar outros meninos...
Correr atrás do caminhão do circo,
E fazer amizade com o palhaço de cara pintada,
E não ter pressa para nada.
E quando chegar a hora de ir para a escola, fingir uma forte dor de cabeça.
Saudades de ficar em casa na janela do quarto vendo a chuva cair,
Fazer cabana no mato pulando o muro de casa,
E só voltar pelos gritos da mãe chamando.
Juntar um monte de madeira velha e fazer um automóvel,
com banco, freio e acelerador,
E fazer de conta que está em alta velocidade.
E quando cansar, partir para o carrinho de rolimãs, descer pela rua sem calçamento, aos solavancos, e só parar firmando o pé no chão.
E no sábado, após a pelada,com bola de pano de meia velha e furada,
Voltar para casa e tomar banho de chuveiro de balde com furinhos, levantado por uma corda,
Lambuzar o cabelo de brilhantina, sentar no muro de casa esperando a menina de vestido azul.
Mas os anos que passaram velozes,
Trouxeram cabelos brancos e escassos,
As ruas foram asfaltadas,
Os pés de mangas sumiram,
Os muros deram lugar aos altos edifícios,
E os palhaços todos morreram.
As cabanas construídas de matos e galhos perderam seus espaços,
E o chuveiro improvisado perdeu a graça.
A brilhantina ficou de lado,pois os cabelos se foram,
E a menina de vestido azul desapareceu.
Que o ano novo segure no colo a criança que existe em cada um,
E que a cada novo dia essa criança ressuscite
Mais verdadeira, mais honesta, mais alegre,
Sem se importar com os cabelos brancos.
Feliz ano novo
Orlando Arraz Maz
Um comentário:
É por ai; boas lembranças. Grato por incentivar à lembrança minha e de tantos outros que tiveram esta oportunidade, única, na vida. Abração!
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