Durante o jantar oferecido ao Senhor Jesus por Simão, um fariseu, surgiu um dos diálogos mais surpreendentes com lições profundas para todos.
O fariseu displicente abandonou as mais elementares regras de uma recepção, dando oportunidade a “uma mulher da cidade, pecadora”, de demonstrar de forma exemplar as belezas de uma recepção à altura do convidado, Jesus.
Tudo o que ela fez naquele jantar fugiu da normalidade. Ao contrário de Simão, que nada fez, e que se tivesse feito, faria tão somente por mera formalidade. Seria uma recepção formal e fria. Num certo sentido foi bom que ele nada tivesse feito, pois sua omissão serviu de lição para ele e para todos os que viriam a ler o relato bíblico através dos anos.
Em uma recepção normal o visitante seria recebido com uma bacia de água à porta de entrada da casa, e dependendo das posses do anfitrião, um escravo lavaria os seus pés. Por certo Simão conhecia bem este procedimento, ora recebendo amigos em sua casa, ora sendo-lhe oferecido água para os seus pés em casas onde fora convidado.
Neste dia, portanto, sua recepção foi fria. Uma mulher da cidade, pecadora, foi o instrumento usado para apontar suas falhas.
Simão não ofereceu água. Embora fosse atencioso para com Jesus promovendo-lhe um jantar, descuidou-se em servi-lhe água para refrescar seus pés. A poeira das estradas, o desconforto do suor produzido pelo calor, não foram suficientes para mover o coração do fariseu. Tratou Jesus com desprezo.
O comportamento do fariseu nos leva a pensar no formalismo de muitas pessoas que desejam a presença de Jesus, mas que o tratam com desconfiança e desdém. Desejam extrair o máximo mas não querem lhe oferecer o mínimo. Desejam a Cristo, mas recusam ofertar-lhe as honrarias que merece.
A mulher pecadora, pela narrativa exclusiva de Lucas, por certo alcançara o perdão de seus pecados. Ouvira o convite terno de Jesus: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”. (Mateus 11:28).
Assim como o fariseu, muitos hoje desejam a companhia de Jesus sem passar pela experiência de uma nova vida, sem provar as belezas do perdão, sem conhecer as ternas misericórdias de um Deus Salvador.
A mulher pecadora não trazia um cântaro com água, e sim um coração profundamente agradecido. Entrou na casa do fariseu, e de mansinho aproximou-se de Jesus, bem perto dos seus pés que foram regados com suas lágrimas. A água do poço do fariseu que nem sequer fora tirada, perdeu sua utilidade. As lágrimas da mulher jorravam da fonte do seu coração e desciam aos pés de Jesus que eram beijados incessantemente.
Jamais alguém recepcionara um visitante trocando a água da cisterna pelas lágrimas dos olhos. O fariseu por certo nunca presenciara uma cena igual a esta. Bem à sua frente estava uma mulher desprezível segundo sua avaliação.
Entretanto, a água que Simão não oferecera a Jesus eram as lágrimas da mulher e a toalha de linho que o fariseu deixou bem guardada, eram seus cabelos .
O fariseu não saudou a Jesus com o beijo hospitaleiro tão comum naqueles tempos, e ainda usado por alguns povos em nossos dias. O beijo na face que o fariseu não deu, foi dado pela mulher nos pés de Jesus.
Mais uma vez a anormalidade em seus gestos nos espanta: lágrimas em lugar de água; cabelos em lugar de toalha, beijos nos pés em lugar do rosto.
Havia mais um ingrediente nesta manifestação de amor da mulher: a unção que o fariseu não fez. A unção com óleo servia para refrescar. Talvez esta fosse a última parte da saudação, quando os visitantes reclinavam-se à mesa para a refeição. O fariseu falhou em cada uma dessas atitudes cordiais, tratando o Senhor Jesus como qualquer pessoa de suas relações.
Em lugar do óleo extraído da oliveira, comum em todas as casas naqueles tempos, e na casa do fariseu, a mulher fez uso de unguento que fora guardado em um vaso de alabastro. O valor do óleo de oliveira para o fariseu seria insignificante, ao passo que o unguento usado pela mulher foi extremamente caro.
Enquanto a mulher se deliciava aos pés de Jesus, honrando-o com seus beijos e suas lágrimas e ungindo sua cabeça com o unguento precioso, o fariseu nutria seus pensamentos em desabono às qualidades de profeta do Senhor Jesus. “Se este fosse profeta, saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, pois é pecadora”.
O fariseu viu tão somente o mal na mulher, sua vida de pecado, sua péssima reputação, julgando-se superior com um caráter sem qualquer nódoa. Mediu o comportamento da mulher usando sua vida como padrão, e aí resultou todo o seu engano.
À luz das palavras de Jesus, seu caráter foi exposto, e para sua vergonha precisou ouvir a história contada dos dois devedores. “Simão, uma coisa tenho a dizer-te. Dize-a Mestre”, replicou Simão. A história contada por Jesus é de uma profundidade sem par, que por certo falou ao coração do insensato fariseu.
Simão acertou em cheio a questão apresentada por Jesus, após contar-lhe a história dos dois devedores perdoados. “Qual deles, portanto, o amará mais”? “Respondeu-lhe Simão: Suponho que aquele a quem mais perdoou”. “Replicou-lhe: Julgaste bem”.
E a partir do vers. 44 Simão entendeu o quanto seu comportamento denunciara a frieza do seu coração.
O escritor evangélico J.C.Ryle, assim comenta esta passagem: “Julgaste bem. Eis aí a razão do amor profundo que a penitente manifestou. As lágrimas copiosas, o afeto terno, a veneração pública, o ungir os pés do Senhor, tudo teve origem na mesma causa: muito lhe fora perdoado, portanto amava a quem a perdoara. O amor foi o efeito do perdão, e não a causa; a consequência e não a condição;o resultado e não o motivo; o fruto e não a raiz. Queria o fariseu saber por que a mulher manifestara tanto amor? Era porque a ela muito fora perdoado. Queria saber por que ele mostrara tão pouco amor ao convidado? Porque não devia nada ao convidado; não tinha convicção íntima de haver obtido perdão; não se julgava devedor a Cristo”. (Comentário.Ev.São Lucas).
Ao encerrarmos estes breves pensamentos, que nosso coração possa arder como o coração daquela mulher, pois fomos perdoados da multidão dos nossos pecados e fomos levantados com braço forte – o braço do Senhor. “... E a quem se manifestou o braço do SENHOR?” (Isaías 53:1).
Que possamos oferecer adoração àquele que nos perdoou da multidão dos nossos pecados, e que nossas vidas se prostrem aos seus pés, afim de que o bom perfume de nossa gratidão e de nosso amor por Cristo exalem de nossos corações.
A Cristo seja toda honra e glória.
Orlando Arraz Maz
Leitura na Bíblia: Ev. de Lucas 7: vers. 36 a 50
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