Eu gostaria de falar com eloquência
humana e com êxtase própria dos anjos.
Eu gostaria de pregar a Palavra de Deus
com poder, revelando mistérios e deixando tudo mais claro, Cristo em evidência.
Eu gostaria de ter uma fé inabalável, exemplar,
inspiradora, notória.
Eu gostaria de dar tudo o que tenho aos
pobres, oferecer-me como sacrifício, enfrentando o que tiver que enfrentar.
Eu gostaria que tanto do que é buscado e
aprovado na vida cristã, reconhecido como importante, estivesse em mim.
Eu preciso, contudo, é do amor de Deus.
Caso contrário, estarei falida.
O amor é que faz a diferença, que pode
me fazer diferente.
O amor é que ensinará a perseverar, não
me deixará desistir quando tudo ao meu redor favorecer o deixar para lá. Só o
amor pode tratar minha impaciência crônica.
O amor é que me educará para a bondade,
só ele me fará tirar os olhos do meu próprio umbigo, e ensinará,
verdadeiramente, a me interessar por aquele que entra em meu caminho. Aliás, me
ampliará o horizonte, me ajudando a perceber que “meu” caminho está dentro de
um caminho maior na história de salvação.
O amor é que poderá corrigir e
transformar a inveja que me habita. Sim, ele tem o potencial de me ajudar a não
querer o que não tenho, e a alegrar-me com os que possuem e conquistam coisas
boas. Mais gratidão e celebração do que comparação e competição.
O amor é que não me deixará mergulhar na
arrogância e nutrir uma mente soberba. Ele é que me dará discernimento, me
mostrará em quantas ocasiões e em como, de variadas maneiras, tento me impor
aos outros, disfarçada ou escrachadamente, maltratando quem poderia ser bem
cuidado, manipulando para que as coisas saiam do meu jeito, conforme a minha
vontade, ocupando-me tão somente dos meus desejos mais escondidos.
O amor é que me fará enxergar como
facilmente ajo na base do “eu primeiro”, buscando continuamente meus próprios
interesses, alimentando meu egocentrismo.
O amor é que não me deixará perder as
estribeiras, e me entregar rapidamente à ira, através da qual deixo escapar uma
agressividade intensa que tento controlar com minhas próprias forças.
O amor é que me conduzirá ao perdão, não
me deixando cair em contabilizações dos erros dos outros e supostas dívidas que
considero que tenham a mim. O rancor se dissolverá quanto mais o amor reinar.
Afinal, o amor não festeja quando os
outros rastejam, o amor não se alegra com injustiça alguma, antes, o amor me
deixa muito mais sensível a qualquer injustiça a meu redor e até longe de mim,
e assim, a dor do que sofre passa a ser também minha. Só no amor há esperança
de um coração verdadeiramente solidário, capaz inclusive de realmente ter
prazer, vibrar saltitante com o desabrochar da verdade.
O amor é que me fará suportar o que de
outra forma jamais conseguiria.
O amor é que me ajuda a ver e crer além,
e por isso, caminhar na confiança do que Deus está fazendo por detrás, acima, e
além do que consigo ver. E assim, descansar nele, sabendo que no amor o melhor
é buscado, que o amor encontra caminhos de vida, de perdão, de reconciliação,
que o amor é esperançoso. Portanto, não é preso no passado, é livre para tentar
mais uma vez, não precisa enroscar na decepção que me faz afastar-me para
ilusoriamente proteger-me. Enquanto o medo encontra brechas, o amor escancara
espaços, respeitando limites. Dessa maneira ele segue até o fim, imortal, sem
perecer pelo caminho da existência.
Muito ideal, muita perfeição? Esse amor
é o amor de Deus por nós – frágeis, assustados, rebeldes. Esse amor de Deus é o
que nos cura. Esse amor é que em mim pode ser revolucionário. Por mais que
cresça, é bem verdade, não me dominará por completo nessa vida, onde enxergamos
apenas em parte, e vivemos em incompletude. Mas, quando vier aquele que é
Completo, não mais haverá limites em mim, e verei e viverei mais do que jamais
imaginei.
Que assim seja.
Texto de autoria de Taís
Machado. Fonte: Revista Ultimato.
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